sexta-feira, 23 de julho de 2010

O enfeite na estante.

O meu quarto sempre foi extremamente organizado, nunca gostei de bagunça ou de objetos fora do lugar. Desde criança sempre deixei meus ursinhos sentados em minha cama por ordem de tamanho. Era perfeccionista, chegava até ser chata com meus amiguinhos, às vezes.


Por outro lado, tinha uma caixa enorme de brinquedos, os que eu considerava “lixo” e não deixava de jeito nenhum serem posto no meu quarto, apenas aqueles poderiam ser usados para brincar.

Toda tarde reunia meus melhores 4 amigos, Paola, Camila, Tânia e Tiago, eles brincavam comigo e não se chateavam por eu sempre escolher a brincadeira, os brinquedos, o que a gente iria fazer e o que iríamos falar. Quem sabe era por isso que eu os considerava melhores amigos.

Certo dia, eu briguei com Tânia, mas não era uma simples discussão, aquela foi uma briga de verdade, isso nunca tinha acontecido com nenhum deles. Ela quis brincar com “a boneca proibida”. Minha bailarina que ficava sempre na estante do meu quarto, de exposição, toda perfeita, com uma sapatilha vermelha sangue, combinando com seu vestido maravilhoso no seu corpo escultural.

Seus olhos eram de um castanho escuro profundo, parecia que ela estava sempre me olhando, me cuidando. Sua pele era branca, pálida, igual a minha. Apesar de muito admirá-la, sentia um enorme medo da minha doce bailarina.

Depois de ter brigado com Tânia, expulsei-a da minha casa, peguei minha bailarina e a coloquei no lugar de sempre. Tânia realmente ficou brava comigo, disse que jamais voltaria na minha casa.

Depois de ter passado essa confusão toda, continuei brincando normalmente, meu dia foi igual a todos os outros.

No outro dia, quando acordei vi que algo no meu quarto estava diferente, tinha uma boneca com uma pele morena, cabelo escuro. Ela estava do lado da minha bailarina perfeita. Fiquei assustada quando vi aquela nova boneca na minha estante, mas depois comecei a observá-la melhor, seu rosto não era doce nem delicado, tinha uma expressão de medo, como se algo a tivesse congelado num momento de susto, de pavor. Um arrepio percorreu meu corpo inteiro, senti algo diferente, um medo incontrolável.

Olhei para o lado e tive uma estranha sensação, minha bailarina perfeita estava sorrindo pra mim.

Tânia jamais voltou na minha casa.